Declaração de Voto, Ciro e o Centro
Ciro Gomes foi o meu modelo de político e de opção ao Brasil desde que eu o estudei pela primeira vez nas eleições de 2002: suas ideias e os seus projetos para o Brasil de uma maneira quase que umbilical estavam ligadas às minhas próprias ideias. Comprei seu livro-compilação de artigos de quando foi à Harvard e concordava com absolutamente quase tudo, desde sua bem sólida política industrial, com sua percepção das imposturas do neoliberalismo e da noção da educação como vetor.
Senti com sua derrota ali, mas assenti com a era Lula, a qual, para minha alegria, acabou sendo muito mais positiva do que esperaria, com as suas políticas sociais que triplicaram a frequência da população brasileira nas universidades, casas populares construídas ao mesmo tempo que se dava empregos e diminuía a violência nos outskirts urbanos do Brasil, ao mesmo tempo que se melhorava o cenário econômico muito mais do que o receituário de Washington pudera imaginar, ao afunilar recursos para irrigar a economia real das pessoas, movimentando toda a economia como resultado.
Qual não foi a minha surpresa quando, agora, portanto 16 anos depois, a real possibilidade de que Ciro Gomes possa ganhar a eleição presidencial exsurge novamente do cenário político, surpreendentemente! E, mais ainda, vi que as ideias de Ciro Gomes estavam igualmente atualizadas com minhas próprias ideias novamente – ele não parou no tempo. O candidato não tem de bom somente sua política sócio-econômico-industrial que me seduziu em 2002, cresceu também nas ideias espiritualistas. Com excelente leitura histórica, percebeu todas as insuficiências do trabalhismo brasileiro de 2002-2015, sabendo pontuá-las e indicar caminhos.
Apreendo, então, que existe uma coincidência de matrizes de pensamento e interesses, o que me deixou novamente esperançado, quando antes só concebia desânimo político. Vou trabalhar para Ciro, portanto, nem que seja como panfleteiro, mas confesso que me animei a mais, por isso me meti a escrever essas palavras e elucubrações.
Se, porventura, ver que chega a ajudar alguma coisa me sentirei premiado e sigo em frente.
Se não, vou-me lá e entrego os panfletos.
O primeiro ponto que eu gostaria de discorrer a respeito não é o mérito das eleições, não são as propostas substantivas que poderão, de fato, ajudar a melhorar o país. O candidato tem excelência na produção dessas ideias substantivas. Ciro Gomes pode, se circunstâncias mais complicadas não se apresentem, de fato entregar a realidade da “alegria de volta” ao Brasil, rapidamente.
O problema é que para alcançar a eleição não bastam as ideias substantivas. Melhor dizendo, a forma procedimental de se colocar no poder é tão ou mais importante que a própria substância das ideias, não por que o procedimento é mais importante em sentido estrito, mas a forma funciona como parte do principal, quando somente através dela a substância se realiza.
É uma questão de linearidade, primeiro Ciro consegue o mandato, depois ele coloca as ideias em prática. E com isso não queremos o falseamento das ideias de Ciro. As ideias e valores devem ser mantidos, mas devem ser colocadas e apresentadas de uma maneira interessante e, mais, palatável. Assim, é necessário saber modificar a ideia sem modificar a própria ideia. É nisso que tem que trabalhar o candidato Ciro Gomes hoje. As ideias ele as tem muitas, e todas, a grande maioria, muito boas.
Então é isso, trabalhar a viabilização de Ciro. Essa “a” dificuldade do Ciro hoje para se estabelecer como potencial vencedor.
Eleições são um envoltório de intrigas e outras questões subliminares. Já Platão disse no seu A República que a mentira e a intriga eram parte indissociável da Política. Então eu faria pontuações acerca de determinadas questões pragmáticas.
A primeira coisa a se falar é que Ciro sabe que Ciro é assim. A preocupação primeira seria, principalmente para pessoas como nós, que estão buscando apoiá-lo, saber se ele estaria satisfeito em não vencer, mas moralmente sair-se forte como um Brizola?
Imaginando que a resposta da pergunta seria não, a outra questão é que seria a nossa função, a função de quem se põe a querer ajudar e a pensar na viabilização de Ciro que é exatamente tentar ajudar, numa rede de pensamentos, nas coisas e questões que podem ser cruciais para uma vitória.
Um ponto crucial para a narrativa é que eu tenho que saber afinar o meu discurso para o ouvinte. Isso é uma questão básica de retórica e do discurso.
Quem é a plateia? Quando se pretende ganhar a eleição no Brasil, é o centro mais à esquerda, ou o centro mais à direita, etc. Ciro está com a eleição ganha se ele conseguir ganhar o centro mais esquerda. Se ele conseguir um pouco do centro, da direita e da esquerda, como ele está tentando fazer também dá. E isso não é difícil. Mas ele tem de conseguir o centro. Pode até ser que ele consiga a esquerda e frações da direita e perca o centro – portanto, Ciro tem que saber ser capaz de conseguir o centro para ganhar a eleição. Esse é seu maior enfrentamento.
O centro que quero dizer não é necessariamente uma parcela da sociedade ideologicamente definida: aqui é exatamente aquela parcela amorfa da sociedade que vai pender para a cautela, se as coisas parecerem arriscadas demais.
Postura mais palatável ao centro, portanto, é indispensável. O que se quer dizer com isso?
Bom, são várias coisas ao mesmo tempo. Lembre-se, o centro é amorfo – mas é quem detém o norte da percepção coletiva. Então, ser palatável ao centro significa muitas coisas, ainda que não represente muitas coisas significativas.
Assim, como são muitas as coisas, vamos falar aqui, pois sei que o tempo e a paciência são poucos, das questões mais óbvias primeiro.
A primeira coisa que o centro amorfo, sem personalidade definida tem, hoje, é o medo. Poderia até ser a fé e a esperança, como em outros tempos, mas o centro de hoje não é tão esperançoso. Hoje, ele vai se mover mais pelo medo.
Então, uma coisa a não se fazer é deixar as pessoas convencerem o centro a ter medo de você. Essa deve ser uma das preocupações da campanha. Nunca deve ser demais se explicar, retirar o medo com a fronte aberta, mas se explicar. Retire isso de Clinton em 1996. Em sua biografia, o democrata sempre dizia que não se deve deixar uma onde contra você sem rápida e tão ampla contestação, justamente para tranquilizar as pessoas.
O inconsciente coletivo é uma percepção subjacente, subliminar e também superior, no sentido de ser uma percepção que, ainda que subjacente, é a percepção que acaba efetivamente por reger um processo coletivo.
Certos preceitos inconscientes regem e governam percepções e os sentidos de uma época. A percepção subliminar coletiva gera revoluções e ganha eleições - o processo eleitoral é um momento coletivo da sociedade, no qual de fato é esperado que haja uma movimentação e um assentamento da percepção inconsciente coletiva. É algo que rege as emoções humanas que, ao fim e ao cabo, tem mais poder que a razão. Não é de caráter concreto, mas de caráter abstrato.
Eu creio que o inconsciente coletivo quer ver, ser convencido ou apresentado à capacidade de Ciro de constrição e passar tranquilidade. Ciro, ainda que goste da polêmica e do pavio curto, como Brizola, tem que querer demonstrar que é possível estar constrito e não se envolver com polêmicas deletérias. Ele tem de manter, obviamente, sua essência, mas ser capaz de constrição também, que é o que se espera ver nos líder. Já ouvi o candidato dizer que sabe que se espera isso dele, e isso me soou bastante positivo. Veja bem, eu adoro ver o Ciro de pavio curto, irônico, sarcástico e sem piedade. EU e você gosta. Mas estamos aqui falando de outra coisa.
Na verdade, esse compromisso da constrição seria no caso do Ciro equiparável a Carta aos Brasileiros do Lula. É a acomodação do candidato para atender o campo centrista e que foi tão importante para Lula. Vença ou cresça no centro, que os votos de esquerda são seus no segundo turno.
Notinhas
Gostaria de poder sempre abordar algumas notas outras sobre a campanha, ao final de um pensamento mais consubstanciado.
A nota hoje é o PSDB. Como bom mineiro, fiquei desconfiado desde o primeiro minuto com a postura de nosso querido Fernando Henrique Cardoso, sempre apoiando Geraldo, só que não. (Em tempo, esse ano vai ser Geraldo ou Alckmin?) Depois flertando com Luciano Huck, logo ele, um ilustrado sociólogo!? E depois, aparecendo na mídia, em todas elas, sem descansar, na tevê, na tevê a cabo, na folha, na primeira coluna do estadão, na Istoé, Veja,
na Turma da Mônica, Caras, Contigo (ops, nessas últimas não, brincadeira).
O que quer FHC?
Pois vou dizer o que ninguém ousou. Ele queria era ser sublimado a candidato. Sim, ele poderia ser a salvação!
Parece ironia, mas atrás de toda graça, há um fundo de verdade.
Talvez pra ele agora seja já tarde demais. Uma dica, para já estarmos preparados, mas que ele, FHC, já deve estar sabendo, é que pode já estar se aproximando, com pompas e atenções da mídia e mercado, o anúncio da chapa Geraldo (Alckmin) - Meirelles. A ver.
